Há algum tempo li esse manifesto e me encantou essa ideia contra a bulimia do orgasmo, vendido como item obrigatório por toda parte. Finalmente, parei para traduzir. Foi redigido pela videasta pornô e ativista Sarah de Vicomte.
quinta-feira, 19 de maio de 2016
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
vestida de Laerte
Em O Som ao Redor, a "doméstica" do seu Francisco avisa que precisa levar os ternos dele na lavanderia da rua. "Vai e volta", ele responde à mulher magricela e vestindo roupas largas da faxina, que estendia, enérgica, o cabide de roupas, ainda que sem olhar muito de frente para o patrão.
E ela corre para seu quarto, coloca a minissaia que revela as coxas grossas, o top que nos faz descobrir seus seios e troca o tênis pela sandália, "biquíni do pé" (© Stêvz); o rosto se transforma e a empregada, de cara emburrada em sua primeira cena, tira uma garota de dentro de seu enfadonho uniforme pálido, uma mulher desejante. Sem o uniforme, ainda adota as marcas de classe, do vestuário barato das meninas de qualquer periferia brasileira (periferia aqui no sentido do que não é centro, do que não é poder). A mulher séria - e talvez sem graça - de uniforme tem mais brilho nos olhos verdes, ela chega a ser bonita, o rosto apagado ganha juvenilidade e as marcas de espinhas ganham novo signo.
"Vai e volta".
***
Lá se vão mais de 50 anos que Roland Barthes publicou seu Sistema da Moda, e já sabemos como a roupa comunica; nem precisamos repetir Foucault pra lembrar que os uniformes domesticam o corpo. Nas conversas mais recentes sobre o se vestir e se portar, o debate ganha cada vez mais camadas no corpo e no discurso de gente cujo desejo é de transbordar o "ou-isso-ou-aquilo" da ideologia.
Derrida usava o termo "indecidível" para indicar certas palavras que são isso e são aquilo, são isso ou aquilo e que pertubam o discurso centralizador do poder. Porque o poder, para ser único, precisa se dizer centro, e pra ser centro, precisa dizer o que não é poder. Sendo assim, o centro é tudo o que não é periferia, a elite veste a roupa que a ralé não pode usar, enquanto a classemediasofre tentando melhorar o guarda-roupa. E, assim, se o poder está nas mãos de homens de pau duro e desejantes, não pode haver no corpo masculino marcas que indiquem sua disposição a ser consumido pelo Outro: a mulher, sim, precisa denotar em seu corpo essa disponibilidade ao assédio de seu consumidor. Butler é quem vai comentar outras feministas que perceberam isso: o corpo masculino seria o "neutro", enquanto o feminino ganha "desinências de gênero".
Em frente ao espelho, nus, temos as marcas do sexo, à elas vamos adicionando a terminação de classe e as tais desinências de gênero (sem contar os sotaques regionais, as desinências de tempo e de ocasião). E o nosso morfema-corpo integrará diferentes sintaxes e comporá tantos discursos, que um software poderoso de criação de personagens virtuais nunca conseguiria dar conta de prever as infinitas possibilidades de ser gente nesse mundo.
As gramáticas normativas dos discursos de poder preveem formações rígidas, pior que um CD demo de The Sims. E aí, quando nosso corpo se faz portemanteau, palavra-valise, o corpo vira poesia. O poético ou o literário, não é aquilo que transborda e subverte as estruturas? O corpo que se transforma e recusa as funções socialmente impostas, é performance transformada em poesia.
Trans e travestis que chocaram e enfrentaram tanta gente para vestir como se queria, para não se sujeitar a vontades do único, do banal, não libertaram apenas um desejo seu, mas de outras como elas e eles, de homens e mulheres também que não precisam ser apenas homens ou mulheres. Isso é dizer que não é apenas o corpo feminino que pode ser objeto de desejo, e que até o corpo feminino pode, às vezes, ser apenas corpo que trabalha, corpo que alimenta, corpo que deseja, corpo que se diverte sem, necessariamente, ser fetiche. E pode ser, também, quando quiser.
A atitude delas e deles, a atitude que pessoas como Laerte Coutinho vêm adotando, fala não apenas de um desejo pessoal de transformação, mas integra toda essa conversa de gênero, sexualidade, classe social, poderes. Atitudes subversivas mesmo que, muitas vezes, sem uma consciência política à flor da pele, tais como pessoas que nem Laerte vêm nos apresentando. Atitudes corajosas e difíceis, dolorosas até. Gente que apanha na rua porque se veste "fora" da "heteronormatividade", ou "metronormatividade", visto que são os grandes centros urbanos (o não periférico) que vêm impondo seus discursos, seus hábitos.
Laerte vem me fazendo pensar essas coisas há um tempo, e lembro com orgulho quando acompanhava, de longe, a cor do sapato, seu cabelo que crescia, os brincos de pérola que surgiam, a maquiagem e a minissaia. Tinha assistido a primeira vez ao vivo em um evento em que, por discurso, ele recitou uns versinhos. Esse deslocar, esse poético, me impressiona até hoje. A visibilidade que vem obtendo sobre essa desconformidade entre o vestuário e as os quereres emociona. Por isso e tanta coisa, ainda não consigo explicar o que foi para mim ter sido convidada por ela a representá-la no 11º Prêmio Arco-Íris de Direitos Humanos, no dia 29 de janeiro, em palco da Casa de Cultura Laura Alvim. Recitei seus versos homenageando a juventude que ainda enfrenta preconceitos de todos os lados para poder vestir e amar quem quiser. Pus um vestido que roubei da mãe, meu único par de saltos, por coincidência em um vermelho dorothyano*, e representei aquele aquela que ousou bagunçar as representações.
E aqui, venho tentando, escrevendo nessas linhas, um esboço de agradecimento, não só pela honraria do estar em nome de, mas por tudo, tudo-tudo, a gente sabe que Laerte merece.
*ver Friend of Dorothy no Google
Pode me encontrar ali na foto pelos pés.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
querido diário de bordo
Acordamos às 5, 6 (eu sempre prolongo mais cinco minutos ad infinitum), e minhas malas já estavam prontas para abandonar meu aconchegante lar em Brasília, a casa das irmãs Ludi & Micaíla.
Às 7h, Ludi e eu seguimos para o metrô. Mas, como qualquer cidade grande, a essa hora há pouco espaço para gente, quiçá malas (malas é exagero, duas mochilas), nos vagões pra quem vem de longe. 3 viagens perdidas, e voamos de volta para casa, recorrendo à Santa Micaíla Advogada Nossa Salve Salve das Causas Impossíveis, que transpôs toda Brasília – e o longo engarrafamento de Taguatinga. Em 40 minutos alcançamos o Plano Piloto – é isso? – e logo chegamos pontualmente à UNB, para encerrar essa jornada de três dias, a III Jornada de Estudos sobre o Romance Gráfico da universidade.
Santa Micaíla Advogada Nossa Salve Salve e três vezes três pulinhos para São Longuinho, que essa semana achou cartão, celular e vaga de estacionamento pra mim.
Além de último dia, era minha vez de participar das mesas redondas. Talvez não tinha sido por acaso toda essa problemática do caminho, do percurso. Falava de Encruzilhada, do Marcelo D'Salete. Falava da estética da margem, e falei um tanto das ruas. Para meu prazer, ao meu lado outros dois rapazes falavam de Mutarelli, de fragmentos, dos desesperos, e da vontade de restabelecer à letra seu papel de ícone, de desenhinho, mesmo (cf. Rafael Martins), e ainda falaram de Barthes. Já estava emotiva.
Depois, mediei os dois amigos Ludimila e Breno; ela sobre Lucille/Renée (Debeurme), ele sobre Jimmy Corrigan (Ware), e a gente se dando conta do que unia essas obras – o pai, a dor, a solidão – e agora penso que o dia de hoje começou todo assim, Brasília e suas retas, como lembrou Breno, dando a ordem dos discursos de poder, e esse encontro todo possibilitando a fuga às castrações, às melancolias: amizades, como lembrou a Ludi, em uma política por vir.
Tanta coisa essa semana me lembrando de cartografar minhas amizades, todos os portos em que posso confiar carinhos, psiquês. E já partia de um deles, da Brasília por quem me apaixonei, mais uma vez.
No almoço de despedida, as despedidas em que se pede uma volta, ainda revi a caríssima Andressa (com Ludi, formamos o trio anarconeon que um dia sambará na cara da sociedade, para usar a expressão da Andressa que tanto repetimos essa semana).
Fui embora pensando nos amigos que não consegui rever, nas conversas que não terminei com a Regina, com o Lima, com o Luiz, com o Gabriel, com o Ciro, com o Ricardo, o Guilherme, o Rafael, o Val, com as meninas da Revista Piqui, com o Benjamin, com o Vinicius e a Carol, com quem mais? e todos os monitores empolgados, e em todas as coisas que ouvi. Foi bom pra mim.Peguei o avião num dia bonito, e depois de um dia cheio, ganhei de presente lugares vagos ao meu lado. Eu não devia te dizer, mas as pernas pro alto na cadeira ao lado, uma cerveja, e duas horas de pôr-do-sol que nunca acompanhei com tanto gosto, me deixaram feliz feito o diabo. Lembrei do que disse André Valente, respondendo em sua oficina a alguém sobre o que era proporção áurea, "quando deus te desenhou, quando deus desenhou o mundo, ele tava namorando".
Quase aplaudi, no final.
Agora, no aeroporto GRU ainda, cumpro a promessa feita em Recife à Ludi, de atualizar o blog (na verdade a promessa era de escrever todos os dias), enquanto aguardo a hora do voo para Buenos Aires. Novas aventuras amanhã?
ps: o dia teria sido perfeito se fritassem o polenguinho de provolone que servem no avião.
Às 7h, Ludi e eu seguimos para o metrô. Mas, como qualquer cidade grande, a essa hora há pouco espaço para gente, quiçá malas (malas é exagero, duas mochilas), nos vagões pra quem vem de longe. 3 viagens perdidas, e voamos de volta para casa, recorrendo à Santa Micaíla Advogada Nossa Salve Salve das Causas Impossíveis, que transpôs toda Brasília – e o longo engarrafamento de Taguatinga. Em 40 minutos alcançamos o Plano Piloto – é isso? – e logo chegamos pontualmente à UNB, para encerrar essa jornada de três dias, a III Jornada de Estudos sobre o Romance Gráfico da universidade.
Santa Micaíla Advogada Nossa Salve Salve e três vezes três pulinhos para São Longuinho, que essa semana achou cartão, celular e vaga de estacionamento pra mim.
Além de último dia, era minha vez de participar das mesas redondas. Talvez não tinha sido por acaso toda essa problemática do caminho, do percurso. Falava de Encruzilhada, do Marcelo D'Salete. Falava da estética da margem, e falei um tanto das ruas. Para meu prazer, ao meu lado outros dois rapazes falavam de Mutarelli, de fragmentos, dos desesperos, e da vontade de restabelecer à letra seu papel de ícone, de desenhinho, mesmo (cf. Rafael Martins), e ainda falaram de Barthes. Já estava emotiva.
Depois, mediei os dois amigos Ludimila e Breno; ela sobre Lucille/Renée (Debeurme), ele sobre Jimmy Corrigan (Ware), e a gente se dando conta do que unia essas obras – o pai, a dor, a solidão – e agora penso que o dia de hoje começou todo assim, Brasília e suas retas, como lembrou Breno, dando a ordem dos discursos de poder, e esse encontro todo possibilitando a fuga às castrações, às melancolias: amizades, como lembrou a Ludi, em uma política por vir.
Tanta coisa essa semana me lembrando de cartografar minhas amizades, todos os portos em que posso confiar carinhos, psiquês. E já partia de um deles, da Brasília por quem me apaixonei, mais uma vez.
No almoço de despedida, as despedidas em que se pede uma volta, ainda revi a caríssima Andressa (com Ludi, formamos o trio anarconeon que um dia sambará na cara da sociedade, para usar a expressão da Andressa que tanto repetimos essa semana).
Fui embora pensando nos amigos que não consegui rever, nas conversas que não terminei com a Regina, com o Lima, com o Luiz, com o Gabriel, com o Ciro, com o Ricardo, o Guilherme, o Rafael, o Val, com as meninas da Revista Piqui, com o Benjamin, com o Vinicius e a Carol, com quem mais? e todos os monitores empolgados, e em todas as coisas que ouvi. Foi bom pra mim.Peguei o avião num dia bonito, e depois de um dia cheio, ganhei de presente lugares vagos ao meu lado. Eu não devia te dizer, mas as pernas pro alto na cadeira ao lado, uma cerveja, e duas horas de pôr-do-sol que nunca acompanhei com tanto gosto, me deixaram feliz feito o diabo. Lembrei do que disse André Valente, respondendo em sua oficina a alguém sobre o que era proporção áurea, "quando deus te desenhou, quando deus desenhou o mundo, ele tava namorando".
Quase aplaudi, no final.
Agora, no aeroporto GRU ainda, cumpro a promessa feita em Recife à Ludi, de atualizar o blog (na verdade a promessa era de escrever todos os dias), enquanto aguardo a hora do voo para Buenos Aires. Novas aventuras amanhã?
ps: o dia teria sido perfeito se fritassem o polenguinho de provolone que servem no avião.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
domingo, 12 de agosto de 2012
História do menino que se salvou do amor de mãe e outros perigos
Um ovo flutuava no rio Uspanapa.
Caridad mexia a água, querendo apanhá-lo; e tanto se agachou que acabou caindo de cabeça no fundo lodoso.
Depois de muito se agitar, emergiu ensopada e sem o ovo, botando água e raiva pelos sete buracos da cabeça. Quando se ergueu na margem, bateu sem querer na ramagem; e o ovo, que aparecia no rio mas estava entre os galhos, caiu aos seus pés.
Caridad sentou-se.
Ao calor de seu corpo, o ovo se quebrou e Andâncio nasceu e chorou.
Serpenteava a língua. Caridad lambia os beiços contemplando o menino que crescia:
– É meu, é meu - dizia.
Andâncio sentia gratidão, porque afinal ela o havia nascido; mas assim que Caridad saía de casa, o menino confiava suas preocupações ao camundongo:
- Minha mãe quer me comer.
E o camundongo movia a cabeça:
- Todas as mães têm essa mania.
[...]
Eduardo Galeano, "História do menino que se salvou do amor de mãe e outros perigos" (As palavras andantes)
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
paisagens
Levei essa imagem para discutir futuro em uma das minhas turmas de francês. O aluno geólogo se empolgou com a cena de um de seus filmes favoritos. E a gente se pegou observando o cruzamento de tempos na imagem, tão cheia de futuros quanto passados e o neon dos anos 1980, ali, então, presente. Conversamos disso de tempos, do que o Milton Santos falava lá em sua Metamorfoses.
E o geólogo confirmou que, sim, a paisagem é um mesmo um acúmulo de tempos. Geologicamente, pode-se observar muito bem. Lá, em cada rocha, o tempo está exposto em linhas, em cores diferentes. E a cidade também, esse compósito de décadas e séculos. E, ora, apesar de termos muita pretensão, a vida humana é insignificante frente às atividades vulcânicas.
Sem entrar na conversa de desenvolvimentistas vs. preservacionistas, localmente, há muito o que se fazer para que tais paisagens não sufoquem seus próprios criadores. Mas dá um alívio tipo pós Melancholia do Lars Von Trier conhecer nossa própria insignificância. Nosso tempo acumulado é tão mínimo frente às atividades vulcânicas...
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
das imagens
"Há imagens demais, mas nenhuma que me atinja" - Roland Barthes, em algum lugar da Câmara ClaraOra, há quanto tempo, blog, que não te vejo. Rascunhei algumas vezes, mas o tempo, ah, o tempo... Claro, meu ego anda bastante massageado pelos likes e retuítes e esse blog nem era lido, tadinho. O que fazia ele na lista do Inagaki de blogs da semana, eu não sei. Isso estava tão parado...
A @meninxexcentric desse novo google analytics junto ao blog e, quando fui ver... Me vicio em leitores. Bem, é tempo de escrever. Como exercício, então, proponho as quartas-feiras. Prometo. Atualização semanal. Juro [beijando dedos cruzados].
O que mais tem provocado a minha escrita, ultimamente, tem sido as imagens recebidas pela alea das redes sociais. Como essa abaixo. Claro, havia visto a propaganda e não tinha conseguido formular um pensamento até ela ressurgir ali, propagando uma outra ideia.
Como comentei, no caso, para a timeline feicebuquiana:
Na segunda foto, poderia estar escrito assim: "Fui assassinada devido a uma política brutal que criminaliza o usuário, não incentiva o tratamento dos mesmos e ainda alimenta toda uma indústria do crime que se sustenta em sua ilegalidade e na falta de políticas públicas que deem acesso à saúde e educação, deixando sob o controle do tráfico boa parte da população pobre dos grandes centros urbanos."
Já a da Luana Piovani, "você não sabe que só brancos chegam à universidade?"
O engraçado é que tais imagens, aparentemente veiculando discursos contrários, ainda servem a uma mesma ideologia conservadora.
Apesar de apoiar a descriminalização do usuário, precisamos ainda lutar para outras garantias, como a saúde dos usuários, a desmistificação das drogas, e a discussão realmente ampla em sociedade sobre efeitos tanto do tráfico quanto das potencialidades positivas e negativas que a liberalização do tráfico podem vir a trazer. E são discussões não apenas políticas, mas que devem envolver pesquisadores sérios e competentes, não pensadores de ocasiões, como nós, os leigos, que devemos ler bastante e tentar analisar o que há por detrás dessas imagens.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
segunda-feira, 21 de maio de 2012
os quadrinhos que mudaram minha vida
Na foto, a coleção de quadrinhos de DVD (Dylan Dog) e de seu irmão mais velho (tudo Disney). Trata-se de uma parede inteira em uma sala sobre a garagem, dedicada à leitura.
Lembro que a primeira vez que li quadrinhos Disney foi uma revista encontrada na casa de minha avó paterna, sobra da infância de um tio mais novo, que fez meu pai imediatamente se lembrar de sua própria. Na época, lia apenas Turma da Mônica, eu mesma identificada sempre com heroína brigona, embora tenha optado por reprimir toda a raiva contra meus amiguinhos escrevendo histórias.
Acho que, aos 13, li o Para Ler o Pato Donald e, já um tanto familiarizada com os escoteiros Disney, fiquei horrorizada com toda a ideologia americana que eles estariam empurrando para mim, não sei se foi aí que entendi o porquê da minha mãe não ter deixado que eu virasse escoteira ou bandeirante. Não parei de ler quadrinhos, mas não lia os mesmos. Pegava emprestado com (o primo e afilhado de casamento) Gustavo Rangel suas revistinhas de Spawn, Gen 13 e os livros com minha nova ídola, Druuna. Não foi ela, mas foram leituras afins que me ajudaram a entender melhor o que era sexualidade.
Mas só bem depois fui descobrir, de fato, Laerte e Angeli. Não acredito que minha vida tenha mudado depois deles, mas junto às Cobras e ao Níquel Náusea e as leituras de Verissimo participaram da minha formação intelectual.
e, já na faculdade, amigo/irmãozinho Lucas Magdiel me apresentou aos Malvados, que me apresentou ao Allan Sieber e aí Patrice Killoffer apareceu na minha vida e aí eu vi que minha vida, de fato, mudou. Já havia lido Le Dormeur do Trondheim ou os cadernos telefônicos do Gerner, mas só comecei a entender tudo depois das 676 aparições. Uma Vita Nuova, que na verdade já germinava, já que apesar do do "Para Ler..."
Hoje, livros como os do Ariel Dorfman, embora importantes, me parecem ingênuos. Vejo como podemos ler os quadrinhos dialeticamente, sem reduzi-los todos a apenas mais um subproduto cultural, mas tão podendo ser tão rico quanto a literatura.
(em resposta a Ciro Inácio Marcondes, por causa dessa entrevista
http://www.saposvoadores.net/2012/05/10-hqs-mudaram-vida-bruno-dorigatti.html e desse texto aqui:http://www.raiolaser.net/2012/05/entre-utopia-e-distopia-mickey-no-ano.html)
Lembro que a primeira vez que li quadrinhos Disney foi uma revista encontrada na casa de minha avó paterna, sobra da infância de um tio mais novo, que fez meu pai imediatamente se lembrar de sua própria. Na época, lia apenas Turma da Mônica, eu mesma identificada sempre com heroína brigona, embora tenha optado por reprimir toda a raiva contra meus amiguinhos escrevendo histórias.
Acho que, aos 13, li o Para Ler o Pato Donald e, já um tanto familiarizada com os escoteiros Disney, fiquei horrorizada com toda a ideologia americana que eles estariam empurrando para mim, não sei se foi aí que entendi o porquê da minha mãe não ter deixado que eu virasse escoteira ou bandeirante. Não parei de ler quadrinhos, mas não lia os mesmos. Pegava emprestado com (o primo e afilhado de casamento) Gustavo Rangel suas revistinhas de Spawn, Gen 13 e os livros com minha nova ídola, Druuna. Não foi ela, mas foram leituras afins que me ajudaram a entender melhor o que era sexualidade.
Mas só bem depois fui descobrir, de fato, Laerte e Angeli. Não acredito que minha vida tenha mudado depois deles, mas junto às Cobras e ao Níquel Náusea e as leituras de Verissimo participaram da minha formação intelectual.
e, já na faculdade, amigo/irmãozinho Lucas Magdiel me apresentou aos Malvados, que me apresentou ao Allan Sieber e aí Patrice Killoffer apareceu na minha vida e aí eu vi que minha vida, de fato, mudou. Já havia lido Le Dormeur do Trondheim ou os cadernos telefônicos do Gerner, mas só comecei a entender tudo depois das 676 aparições. Uma Vita Nuova, que na verdade já germinava, já que apesar do do "Para Ler..."
Hoje, livros como os do Ariel Dorfman, embora importantes, me parecem ingênuos. Vejo como podemos ler os quadrinhos dialeticamente, sem reduzi-los todos a apenas mais um subproduto cultural, mas tão podendo ser tão rico quanto a literatura.
(em resposta a Ciro Inácio Marcondes, por causa dessa entrevista
http://www.saposvoadores.net/2012/05/10-hqs-mudaram-vida-bruno-dorigatti.html e desse texto aqui:http://www.raiolaser.net/2012/05/entre-utopia-e-distopia-mickey-no-ano.html)
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post originalmente publicado no Facebook, após comentar o texto do Bruno.
Thomas Ott, um dos mais recentes livros que me enlouqueceram. Por acaso, o Malvadinho está aí de papagaio de pirata. Foto tirada na casa de Elcerdo, que tem dois livros do Ott, e os li na mesma tarde, junto com o Céphalus de Ludovic Debeurme.
sábado, 12 de maio de 2012
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