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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A Fotografia, o Tempo, e a Morte

A leitura de uma Fotografia pode ser realizada da mesma maneira em que lemos qualquer outro texto. Todos os códigos que se pretendem arte, aliás, podem ser lidos contra o autor (com exceção do teatro ou das instalações performáticas, do esporte, em que o referente/ator aguarda nossa reação instantânea, mesmo contra a própria vontade). Mas, na Fotografia, o Objeto-Personagem pode ainda ser o mesmo que a olha, deposto de sua própria ação, imobilizado por um outro olhar (em primeiro grau, o do Fotógrafo, o segundo grau pode ser o do próprio Objeto fotografado). São esses questionamentos colocados por Roland Barthes em seu último livro. Se fosse um romance, poderíamos dizer que a Fotografia, o Tempo e a Morte fulguram como protagonistas.
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"Meu nome declara meu próprio desaparecimento" [1]. O lugar do autor seria atrás da chamada "cena da escritura". Como o que assino pode ser usado contra mim, meu nome declara minha possibilidade de finitude. "Ninguém é pai de um poema sem morrer", escreveu Manoel de Barros; Foucault afirma que a escrita tem o poder de assassinar seu próprio autor (1992). Minha escrita é parricida (me mata, me sobrevive), mas escrevo. Escrevo para salvar aquilo que escrevo: o ausente, o desejo. A literatura seria, portanto, o sacrifício do "ego" pelo "outro" bem amado. Derrida cita seu amigo Jean-Marie Benoist: "Pois o deus da escritura também é o deus da morte. Ele castigará o imprudente que, na sua busca do saber ilimitado, termina por beber o livro dissolvido" [2]. Para Barthes, a escritura seria uma tentativa de salvar os seus da morte, de preservar a memória desses, eternizá-los como num monumento. Como escreveu Derrida, o discurso de luto tenta falar a esse amigo, interiorizá-lo em nós e para nós, é também uma tentativa de fazê-los falar através de nós, falar o outro post mortem.



[1] DERRIDA, Jacques. Op. cit. 2003:2, p. 70.
[2] Idem, ibidem. p. 137. Grifo do autor.

(trechos da dissertação - em breve online Luto e escritura em A câmara clara de Roland Barthes)

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