work in progress

Creative Commons License

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Mostrando postagens com marcador poemeus. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poemeus. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

insônia

(en.tro.pi:a)
sf.
1. Fís. Grandeza termodinâmica que expressa o grau de desordem, da agitação térmica de um sistema reversível, portanto uma função de estado; mede a energia do sistema que não pode se tranformar em trabalho e se dissipa, Assim, quanto mais desordenada a energia, maior a entropia e menor a quantidade de trabalho obtida [Símb.: S]
2. Comun. Na teoria da informação, a entropia expressa o grau de desordem ou de imprevisibilidade da informação; quanto menos informação no sistema, maior a entropia
3. Biol. Medida da desordem de um sistema
[F.: Do gr. entropé, pelo ing. entropy.]


Desenho pela casa minha euforia. Os papéis jazem sobre mesas, o chão, o buffet. Os sapatos medem a distância entre meus passos pela casa. Há livros, moedas e copos fora do lugar de onde eles se supõem pertencentes. Insônia entrópica: incapaz de transformar o cansaço em sono, incapaz de reorganizar a casa nessas horas sonâmbulas. 


(antes: insônia e entropia)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

derridianas







Naquele entre-lugar, em tomo de Derrida, falava-se.
Ele, em frente ao palco, deixava-se convencer de que citava-se outros, pois sabia-se morto desde que escrevera. "Eu perco minha assinatura no momento em que eu assino". A cada morte nossa, deixamos marcas no corpo do texto.






O leve roçar de ideias, pontas de dedos que esbarram em outra pele, o humainisme -humanidade de mãos que se dão, que deixam ir os anéis com esperança de que o calor do outro permaneça sobre a pele.






O perdão imerecido: Martin não dedica mais nada a Edmund - as mãos que não mais se tocam por estupidez.






Mas é possível amar sem espera? Mas em que línguas recito minha mesma dor? Doar-se na in-condição?
Conjugar o incondicional é margear o impossível.






"O que traumatiza, é mais o impossível que pode acontecer que o impossível que já veio"






No elevador, o vento de máquina despenteia os cabelos brancos do filósofo. O espelho olha e eles sorriem.


***
Escrito em 2004, durante a semana do Colóquio Pensar a Desconstrução, última apresentação do filósofo Jacques Derrida, que faleceria um mês depois. Na época, lia muito sobre ele e por acaso pegamos elevador juntos, me senti entrando no camarim de um rockstar. Durante o Colóquio e entrevistas, Derrida falou sobre a amizade e a dedicatória à Edmund Husserl apagada na segunda edição do Ser e o Tempo de Martin Heidegger, sobre os impossíveis, sobre a incondicionalidade, sobre a escrita, os indecidíveis.


Ainda acho que o Derrida, e seus cabelos brancos são bem rock'n roll. Fica aí minha homenagem a meu filósofo predileto, aos Indecidíveis e à semana do rock. 

***
Falando nisso, sempre é bom visitar o blog irmão (também usando uma palavra derridiana como nome) 
http://gramatologia.blogspot.com/ - Dica do amigo oulipiano Adilson.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

chuva

(ando revirando os arquivos, esse aí é de quando eu era pequenininha, tipo há uns 6 anos)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

citycité via omnibus




riso esperto
peito aberto
cadê

cadê bamba
cadê manha

você já foi mais valente




quero ver amanhã
se tu te aguenta
nem mais te esquenta
com o que vê
finge que faz
se faz de sábia
tu não é santa

 

olha pra frente
disfarça o asco
o cansaço
esconde a falta
a falta de
a falta de

terça-feira, 4 de maio de 2010

baudelaises


Fiche-moi la paix, ô mal de gorge, suis déjà débile
Tu réclamais l’insomnie : me voilà :
Une douleur maligne recouvre mon corps, vile
Les oiseaux chantent dehors, je reste ici
Pendant que l'eau se teint à camomille
Dans la tasse chaude, accompagnant le propolis

Viennent chasser ma fièvre, cette salope insensible
Ma Douleur, va-t-en; ne viens plus ici






segunda-feira, 26 de abril de 2010

quiromancia

sulcos profundos na linha da cabeça
picoteada por linhasinhas vãs
curto espaço até a coração, a mais rala
com dois começos
tentando subir até à vida
que começa sobre Vênus
o monte carnudo que sustenta o polegar.

- Seu monte de Vênus está inchado e roxo, sabe o que significa?
- ... uma queda de bicicleta.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

poema para não dormir

ó verso de dourado sonho
nunca estás onde o pomos

esconde-te numa ponta de vigília,
noutra de merecido sono

se não te despe de tua escrita
abandona-te

tu
insone

terça-feira, 10 de novembro de 2009

com quantos olhos se faz um preconceito

(resumo cantado da cena)

olha o jeitinho dela andar.

olha o vestidinho dela falar

olha o sorriso dela, puta?

olha a moça com medo, surra?

olha seu corpo escondido em fuga

olha, agora a moda é burka



segunda-feira, 20 de julho de 2009

sexta-feira, 15 de maio de 2009

das esperas II

k não aparece mais online.

www.msipettertalk não aparece mais online.com

#mimimi@ll k d v c ? !

:-| :-/ :-o :-Q
k não aparece mais online.

se>
k diz oi
ego diz oi

mas< k não aparece mais online
bloqueio, talvez?

k não aparece mais online.

problemas do servidor_o que eu fiz?


se>
k diz oi
ego diz :P
e mais:

k não aparece mais online.

diante do desaparecimento das frequências cardíacas dos avatares de k, declarar o luto e o desespero enviando mensagens subliminares em subniques de emeesseenes, que os mais íntimos entenderão o fim de k em minha lista de contatos. deletar o que sobra de existência online num suicídio simbólico do tempo em que k era online para mim. k não aparece mais online. nunamaisnuncamaisnuncamais.

se>
k diz oi
ego diz \o/

____________________________________________________________________________________
ensaio sobre @@@ - estética em homenagem a m-a

sexta-feira, 3 de abril de 2009

bibish

creio que essa rigidez de meus ombros é meu corpo já virando coisa. nem lembrava mais como se escrevia. já tinha esquecido qual era o meu blog.
essa semana, a doce bibish mumbu, escritora congolesa, esteve no meu trabalho (sempre lugar da negação da vida, independente de gostos e desgostos). de onde me esqueço da escritura, ela nos pediu para escrever.

depois, ela bordou nossos textos uns nos outros e ainda emprestou o resultado a outras vozes para lê-los. e a gente se lembrava da memória do outro que se alinhavava com a nossa como se fosse um tecido só. ouvindo falar da gente como se a gente nem fosse mais.

ama a memória do outro como a tua própria.

enquanto não recebo o texto completo, desfaço em português meus deveres desses 3 dias


I

Lembro que as primeiras eram em linhas dublas: quando começava a escrever, davam-me espaços muito pequenos. As linhas eram dobradas para que se treinasse caligrafia, mas eu não entendia, no início.
Então eu me forçava a colocar abc dentro de meio-centímetro. Sem dar-me conta, obrigava-me a não ultrapassar espaços: exercício de ser minúscula, até ilegível.
Não era o mesmo para as palavras: não me lembro, meus pais me dizem. Mas não tenho lembrança desse tatibitate.
Lembro de quando ensinavam-me a ler, na escola. Guardava entre os lábios o mesmo frágil rumor das folhas discretamente preenchidas. Disso, me lembro.

II

Parece que amanhã será mais difícil que hoje. Dizem que é preciso ser austero; parece que o humor não é engraçado. Acho que vai piorar.

Dizem, se ouvi bem, que a palavra de ordem é « a vida não é fácil, façamos o menos possível, não vai durar ». Parece que é impossível mudar o percurso (é a inércia, dizem) do movimento dos acontecimentos desse mundo. Dizem que não vale a pena cuidar das feridas, vamos reabri-las arranhando a pele apenas curada. Dizem que é a natureza do mundo. Parece que sim, mas nunca se sabe.


III

Sonho de um espaço dissolvido em tinta: papel manchado de letras desconhecidas. Não sei em que cores eu sonho. Sonho de uma letra mestiça, onde um prefixo estrangeiro possa se casar com um radical da minha lingua.
Que língua? Sonho de nossas línguas enlaçadas. Que línguas? Sonho de uma escritura virgem de significados. De uma linguagem bem branca onde se possa marcá-la de sentidos a bel prazer. Sonho também de torcer as palavras até mudar a ordem regente das frases.

sábado, 15 de novembro de 2008

e no tac tac

era tac tac
ou catrac tac
era tac tac
ou catrac tac
que ele repetia assim
era tac tac
ou catrac tac
que ele repetia assim
e avançava
era tac tac
ou catrac tac
que ele repetia assim
e avançava
mas nem tudo acompanhava
mas sei que era mais ou menos isso
tac tac
catrac tac
tac tac
catrac tac
era sobre algo sobre guerras
e máquinas
tac tac
catrac tac
e não respirava
nem lembro mais o que seria
tac tac
catrac tac
e seguia

segunda-feira, 14 de julho de 2008

letras emprestadas

escrever um poema é digitar em teclado estrangeiro.
falta os acentos,
é preciso escolher melhor as palavras para evitar as grafias ausentes.
e tropeçar inevitalmente sobre erros crassos.

é assim mesmo

as letras nunca existem onde precisamos delas.


tentar escrever "algo" é ser estrangeiro da linguagem mesma que nos nasce?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

à espera do domingo

esquecer o corpo
de que se é corpo
olheiras no espelho
e a água transmutada em café

milagroso quotidiano

a manhã violência de luz contra o sono
a tarde não existe qu'intermezzo
a noite escorrega pela cabeceira da cama

o cansaço de amanhã
sobre estrutura
de vésperas







segunda-feira, 24 de março de 2008

era pra ser um haikai

um vento impudente
sussurra à manga
que
rósea
abre-se pele
e carne
sobre o cimento quente
tangente da terra, da árvore, da grama.

moscas e formigas me precedem
desfazendo sob as patas
o que ainda me era desejo

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

ave verum corpus

salve
ó
corpo
vero
nascido
puro
de
mulher

(
trespassar
-lhe
escorrendo
água
e
sangue
)

possamos
nós
degustá
-lo,
na hora
da
pequena
morte

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

depois que o feriado acabou

desviro a sandália ao pé da cama
antes que cause morte de mamãe
a blusa defumada a cigarros continua sobre a escrivaninha
assim como as xícaras de café perfumando o quarto

acho que vi deus na bohemia
e juro que ele me disse que hoje era domingo

sábado, 17 de novembro de 2007

...

em dias assim, nublados
de vazio, tédio, cansaço
quando não vêm idéias,
roubo frases.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

alíngua

saliva de aroma estrangeiro
sabor de logos-mot-word-wort

corpo estranho em minha boca
palavra
doutro eu, doutra língua
que transpiro
até manchar meu português

e o
tecido de milíngua
em canto alheio