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sábado, 3 de novembro de 2007

inspirações

encostou o braço no peitoril de alumínio da janela. além de frio, úmido, da chuva que ainda ecoava em alguns raios. tinha encostado o braço achando tudo já acabado e disposto a respirar fundo o cheiro do asfalto amaciado pela chuva.
chega logo, inspiração.
inspiração era o apelido que tinha dado à mocinha que morava na janela logo à frente, um pouco mais à esquerda, e que assistia uns programas da tv à cabo quase todo dia, quase o dia inteiro e sempre, à noite, quando não ia pro computador.
vocês bem sabem como ela era.
insultou o parapeito que tinha sido, também, vítima de pedro, o primeiro, mas não o imperador, e ficou observando, agora com o corpo afastado da parede, recuando, a água que se acumulara sobre a rua.
merda.
voltou ao seu computador e ficou observando o perfil da vizinha. claro que não foi pela janela do quarto, já disse que a inspiração não chegava.
procurou mais uma ou duas vezes algum caminho entre as águas, lá embaixo, olhou com desinteresse e cansaço o quarto, depois o seu corpo, o seu ventre que se apoderava aos poucos de suas pernas, quiçá um dia de todo seu corpo, e suas mãos cansadas, voltou o olhar para a tela, pensou outra vez, fechou as janelas, todas, todas, abriu a do word e voltou pro trabalho.

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