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domingo, 23 de março de 2008

marketing e a rede

há algumas semanas, MC e DVD, convidados por F, jantaram em casa de T, onde ouviram, não tão entusiasmados, as declarações de B sobre o marketing atual. “não há mais isso de marketing direto, o negócio é a criação de redes. informa-se a alguém sobre determinado produto. ele não vai comprar o produto, mas vai falar com os amigos, que são, eles sim, o público alvo, eles discutem e decidem o que é melhor; não dá pra forçar ninguém a aceitar determinado produto, mas são alguns pontos de influência.
logo depois, em um dos nossos blogs mais queridos (do fofo do Dahmer) MC lê sobre o “marketing viral”, que estava sendo discutido já pelo observatório da imprensa e outros sites importantes de esporte e jornalismo, desde que o futepoca publicou um email de um suposto funcionário de uma agência que trabalhava para a nike. depois do post do dahmer, sabe-se que, mesmo a notícia do futepoca sendo já um tanto velha, parece que a fúria dos blogs provocou a queda do tal funcionário, já que, logo no dia seguinte, o bluebus nos noticia a demissão do gajo.
“há imagens demais” nos nossos dias, e textos demais, e a criação de “redes” – comunidades orcúticas e similares – é o que possibilita a integração e dá visualidade a um assunto, a um “blogueiro”.
tudo começa com o “me linkaí”, versão já moderna do antigo “comenta-no-meu-flog-que-eu-comento-no-seu” e vai pela análise constante do número de acessos + a vigilância das páginas mais vistas X o feedback através das atualizações e dos comentários em blogs alheios. esse é o b-a-bá do marketing viral gerado pela nação bloguista.
o próprio D, sabe-se, foi responsável por uma grande onda de acessos a vários blogs de difícil visualização para outros grupos quando criou a blogosfera. até a simples citação de um amigo ou outro provoca enxurradas (você, se não veio do meu orkut ou por um acaso qualquer, provavelmente veio do site dele ou da clarinha, né?). e as técnicas para dar remeter certos termos a determinados sites, como a campanha blogs X veja.
como “o poder” sempre se apropria de tudo, é evidente que essa tática de chegar aos terceiros através de alguém mais influente é velha e quase nunca falha. só está sendo implantada em um lugar novo. quem nunca ouviu falar das mensagens subliminares no cinema, “coma pipoca” e os comentários descarados sobre os produtos do patrocinador no meio da novela (vide fight club, the truman show etc).
os ad-senses do google, que incomodam tanta gente, repetem digitalmente os anúncios dos jornais. é até engraçado comparar texto e anúncios (deus e psiquiatras perseguem o sieber, por exemplo).
fiquei matutando sobre esses assuntos quando, lendo um livrinho velho de poesias do jean cocteau (aliás, continuo fã do diretor, mas não gostei tanto assim do poeta), me irrito ao descobrir uma propaganda a cada quatro páginas. O faire-part, livro da década de 60, é freqüentemente ilustrado por sponsors que, aparentemente, também são ali unidos por palavras-chave. revistas literárias, editores, livrarias, lojas de disco e até mesmo banco (!!!) que financia publicações de poetas (ou não poetas!!!). o preço do livro me explicou tudo: 1 franco.
os anúncios, em si, já são, ali, um achado (o crédit français, primeiro banco com guichê automático da frança, uma revista dirigida por aragon, as seis letras que diziam, por si, a que vinham: chanel). entediada com as rimas, pus-me a vasculhar as propagandas. perdendo qualquer potência de convencimento – nem poderia mais procurar os endereços das lojas –, elas estão para sempre reduzidas a um instrumento de certa tortura para o leitor, obrigado a distinguir o que é o texto e o espaço publicitário.



o mesmo que se repete ainda nos quotidianos, nos semanários... em 25 de novembro de 2007, mário magalhães, ombudsman da folha relatou o descontentamento dos leitores: os anúncios tomavam mais da metade das páginas do jornal (no livro do cocteau, tomam 1/5). “anúncios são bem-vindos. mas eles devem propiciar um jornal melhor, e não configurar um estorvo aos leitores”.
olhando melhor, vê-se que a idéia das propagandas no caso cocteau é um projeto de tornar a literatura mais acessível: “um desafio, uma ambição, uma aposta: a poesia, enfim, ao alcance de todos”, proclama a edição.
na luta pelo acesso de todos aos textos, submetemo-nos a algumas concessões. grande parte dos sites de jornais nos remete a páginas publicitárias como um “intervalo” entre uma notícia e outra, os incríveis pop ups, os coloridíssimos anúncios piscantes sobre a tela.
(no dia 18 de março, na página do jornal italiano la repubblica, exibia-se um vídeo de um atropelamento: duas meninas morreram. mas, antes de acessar o tal vídeo, o site exibia uma propaganda de carro, da mesma marca que causou o acidente. a propaganda continua , mas retiraram os vídeos).
que a propaganda permite serviços mais acessíveis, tudo bem. mas ninguém se interessa a fazer um estudo sobre os efeitos desse excesso – é ou não é poluição visual, cores demais já não fazem os japonesinhos babarem vendo pokémon, o que dirá dessas coisas que surgem inesperadamente na tela, durante uma manhã de leitura online?)

por mais irritantes que possam ser essas propagandas, no entanto, é possível fazer uso de recursos para desviá-los, nem que seja fechar a página (ou virar a da revista, do meu livrinho – ok, na medida do possível) problema é a propaganda invisível, quando você acha natural, por exemplo, ir no site da nike dar um apoio pro ronaldo, normal votar para o cristo ser uma maravilha, encher de emails alguns com as campanhas mais esdrúxulas possíveis, e pedir para reenviar emails com campanhas da “semana do amor”, “dia do amigo”... isso, sim, me assusta. é a mesma que nos dá a urgência de estar conectado, sem que a gente saiba que, a todo tempo (e isso não é teoria da conspiração, vejam qualquer site de webtrack), estão colhendo informações para que recebamos uma personal pub. mecanismos invisíveis são os que criaram e recriam o pensamento único de que o mundo é natural, e não um conjunto de sistemas de constrangimento, de manutenção de poderes.

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