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domingo, 20 de abril de 2008

celulares


há quase seis meses o meu telefone portátil desligou, não voltou a si, e eu guardei em uma gaveta, onde ele jaz por minha paz. na época, escrevi um email dramático para pedir os contatos perdidos dos amigos.


meu celular não acordou hoje, já tentei recarregar, desfibrilador, nada. vou deixar de ser "maria claro" por uns tempos. acho que os deuses pedem isso e não vou comprar outro celular por enquanto. é a segunda vez em menos de um ano que a nokia me deixa na mão. outra vez pro conserto. e olha que ele já escapou de dois assaltos! o problema não é só o contato, perco, também, um despertador e relógio. e uma agenda para todas as horas. e minha câmera! snif

ainda procuro ele na bolsa quando entro no cinema e sinto vibrações e sons típicos até em sonhos. ou seja, ainda estou me recuperando. o mais difícil é conviver com as cobranças ("sua hippie!")

não faço campanhas contra celulares, só peço a meus caros alunos para colocarem o tamagochi para dormir antes de entrar em aula. claro, o filho precisa ligar para a mãe e ela precisa atender durante um exercício, assim como o chefe, assim como o pai ou uma amiga que não se vê há anos ou o namorado que está esperando no shopping. era simpático ler SMS engraçadinhos no meio do dia... posso consertar o meu a qualquer comento, mas não é minha prioridade agora, não me "oprimo", não me "forço" a ficar sem como uma mártir da contemporaneidade...

o que realmente me irrita é a mudança brusca que sofremos que transformou o trim-trim em algo essencial. e, mais ainda, ficar à mercê de mudanças em cima da hora em encontros com amigos. com o celular, percebo que os atrasos ficam cada vez mais freqüentes (ligo quando estiver indo).

a excessão torna-se regra. e quando o amigo atrasa, e deixou você plantada uma hora no bar: mc, compra logo esse celular!

sem contar que é um aparelho absolutamente descartável, trocas de números constantes, os amigos que não carregam e ligam a cobrar, os amigos que dão toquinho ou mandam torpedos quando você está sem crédito. a falta de resposta é encarada como desrespeito de sua parte. meses depois de ter abandonado o celular, ainda ouço reclamações: "mas te liguei outro dia e tava desligado!"... várias vezes perdi meu tempo esperando amigos com celular fora de área ou que diziam "tô chegando"... e é algo normal... onde isso colabora com a comunicação? e pra que essa urgência de comunicação?

participava dessa pesquisa aí sobre novas tecnologias, há quase um ano. uma das novidades para serem avaliadas era um novo modelo de celular.

imagina esse aparelhinho entrando na moda? e as justificativas para algo do tipo é "poder cuidar do meu lado pessoal enquanto trabalho". cruzes. "ser acessível para ser mais eficiente no trabalho". "eu consigo trabalhar de forma mais produtiva se eu puder ter contato com pessoas do meu trabalho a qualquer hora e em qualquer lugar". bons os tempos em que telefone era só pra dizer alô e pronto...


o texto que descrevia o "produto":

Localizador de Amigos
Um celular que lhe avisa quando há amigos por perto. Você também pode pesquisar por onde andam seus amigos. Você controla quanto de sua própria localização quer revelar e para quem.

2 comentários:

paula disse...

telefone é irritante desde quando as pessoas me ligam quando querem e pensam que eu tenho a obrigação de atender e de querer conversar.
outro dia eu recebi uma ligação de 3 segundos e eu comentei por SMS que eu não podia falar aquela hora.
5 min depois a pessoa liga de novo
e eu desliguei com gosto na cara.
da série "eu não sou um ouvido".
hoje eu não quis atender o celular
e a minha amiga ligou aqui em casa.
"acorda!": como se o meu cansaço fosse um desaforo e eu tivesse que atender na hora que ela me ligou.
é tanta falta de limite e de respeito que eu quero só distância.
ou seja, o que eu menos preciso é de um celular-localizador-de-amigo.
aliás, muito medo desse celular.

Anônimo disse...

o unico avantagem do celular: o antiguo genere de poesia japonesa, conhecida como "haiku", que foi inventada para ser comunicada por sms.