Quanto te agrada o apocalipse?
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di FRANCESCO MERLO
In: www.Repubblica.it
Se você está vivo e se está lendo, então já está em um outro mundo, ainda que seja com os mesmos aspectos daquilo que acabou há pouco. Disseram-nos, de fato, que no fim do buraco negro, no qual você já se precipitou, há a terra número dois, peça gêmea, apenas uma peça de reposição, aparentemente com os mesmos ingredientes, com o mesmo jornal que, de fato, ainda tem em mãos e com os mesmos cientistas brincalhões. São eles que, na verdade – num imenso laboratório subterrâneo, sepultado a uma centena de metros sob os confins de França e Suíça –, submetem o planeta a uma obstinação epistemológica. Vale a pena dizer, a verificação do big bang.
Segundo informações de primeiríssima mão, sabemos que sobre a terra que escapou da terra vão faltar apenas os mutuários e os aluguéis pra pagar, Bossi, Carfagna e Gelmini[2], os pratos pra lavar, a dor de cabeça e o jogo de futebol. E que o resto se verá. Com certeza, não pode haver novo mundo sem fim do mundo. Até mesmo os Estados Unidos nasceram para escapar da guerra entre Cristo e anticristo, anunciada na Europa como o fim do mundo. A América foi o buraco negro dos peregrinos, a regeneração da humanidade.
De qualquer forma, você que está lendo esse artigo, por favor, não esqueça do céu. Lance às vezes os olhos para ver se lá no alto, sem barulho, o sol não está se apagando, ou, ao contrário, está se expandindo. De fato, não foi dito que o big bang será anunciado com um ruído, poderia se tratar de uma sacudida convulsiva e silenciosa. E então o fim do mundo poderia também ser agradável, como um nirvana, uma interrupção de consciência pouco perceptível, um sonho.
E se em vez disso você estivesse morto e não pudesse nos ler, se amanhã não será mais, em suma, outro dia, bem... Então teria acontecido uma eutanásia, ou melhor, uma “autanásia”, não um suicídio para dar fim à existência do sofrimento, mas um suicídio por jogo científico, por uma explosão que não serve para nada, senão para provar uma hipótese cosmológica.
Não é a primeira vez que é anunciado o fim do mundo. Assim, pode-se dizer que a história do mundo é cheia de fins do mundo, mas é claro que esse seria o primeiro fim do mundo totalmente humano, um fim do mundo laico e secular, sem escrituras, sem Deus e sem religiões, provocado em laboratório, sem paraísos, infernos e purgatórios, sem juízos finais em ordem alfabética, mas também sem a angústia das procissões do último dia e das utopias milenaristas, sem exegeses bíblicas ou redescobertas de textos aramaicos.
Convencidos de que existe uma relação estreita entre a ciência e as convicções mais bizarras, entre os mitos e as descobertas científicas, entre, por exemplo, o heliocentrismo copernicano e o heliocentrismo pré-cristão..., convencidos, em suma, de que o obscurantismo está na base do sistema solar ou, se preferir, que o sistema solar legitima os mitos obscurantistas, estamos todos aqui esperando de verdade esse fim do mundo da “Large hadron collider” que um grupo de cientistas colocou em funcionamento e que um outro grupo de cientistas tentou parar em vão.
Ambos estão obcecados pelo fim e pelo começo, próprios como eram os antigos movimentos espiritualistas e milenaristas. Os cientistas, em suma, substituíram a prece pelo átomo. São eles os nossos bruxos, crêem no fim do mundo um pouco como Kepler que, grande descobridor da órbita elíptica do planeta, era, na realidade, um místico do número. Acreditava na perfeita geometria de Deus, descrevia os demônios e os monstros lunares, mas até mesmo a sua paixão obscurantista pela geometria o fez se voltar para o estudo dos cristais. Notou de fato que “cada vez em que começa a nevar, os primeiros flocos de neve tomam a forma de um asterisco de seis ângulos. Por que não de cinco e tampouco de sete ângulos?”.
E se sabe que Voltaire decapitava caramujos e que Spallanzani passou a vida a amputar sapos. E que se o físico Charles Wilson não tivesse sido um fanático por nuvens, a ponto de tentar fabricá-las em laboratório, nunca teria chegado, sem querer, ao sistema de captura de partículas elementares que lhe valeu o Nobel.
É, se os fanáticos pelo fim do mundo não partissem “em busca da partícula de Deus”, como chegou a declarar James Gillies – o porta-voz do Centro de Pesquisa Nuclear de Genebra (CERN) –, os nossos cientistas não teriam criado o encontro marcado para hoje com o Apocalipse. “Os meus cálculos indicam que o risco de que um buraco negro coma o planeta por causa do experimento é sério”, afirmou o professor Otto Rossler, um químico alemão da Eberhard Karls University.
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Em suma, hoje, 10 de setembro de 2008, temos a prova final de que a ciência é o produto de seu contrário e que o progresso científico é feito mais de escuridão do que de luz. Como sustentava Leo Szilard, um dos pais da bomba atômica, grande amigo de Fermi e Einstein. Em 1963, Szilard abandonou a ciência e tentou convencer um bilionário americano a financiar com trinta milhões de dólares por ano uma Fundação para reunir os maiores cientistas da Terra. Divididos em dez comitês de doze sábios, eles deveriam ter usado a ciência para parar a ciência ou, ao menos, atrasá-la, atrasando, assim, o retorno das trevas e o nosso fim. E então, se a peça gêmea do outro lado do buraco negro fosse somente uma besteira, ninguém hoje poderia testemunhar que o pobre Szilard tinha razão. Bang.
(10 settembre 2008)
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Um comentário:
Gosto posso dizer que amo...
Apoc:11 Levanta-te e mede o altar e os que nele adoram as duas oliveiras os dois castiçais que estao diante de Deus...
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