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quarta-feira, 21 de abril de 2010

e deus parou a cidade

Desenvolvi desde cedo uma tolerância religiosa a prova de qualquer fanatismo. Até escondi meu ateísmo durante muito tempo, para não chocar ninguém. Nem gosto da palavra ateu, tão agressiva. Prefiro ser agnóstica. 
Gosto, aliás, de rituais, de conhecê-los, de observá-los. Tenho fé no broto de comunhão que germina em cada casa religiosa, isso de todos se conhecerem, se frequentarem, discutirem seu dia a dia. 

Aí vem essa multidão. A cidade parou, é verdade. De Copacabana até a Praça da Bandeira. Gente indo a pé, gente descendo dos ônibus, brigas no metrô. Nem de bicicleta dava pra passar (levei o dobro do tempo que costumo fazer). Em Botafogo, guardas tentavam retirar os participantes do Dia D (Dia da Decisão, organizado pela Igreja Universal do Reino de Deus) do meio da rua, enquanto carros e motos tentavam retomar o trânsito, que não era mais deles. Enquanto isso, pastores pediam aos grupos para se manterem no meio da rua. O objetivo era claramente parar o trânsito, mostrar a força deles. 

Era uma festa, é verdade. Os ônibus - estacionados da altura da Glória (ou além) até a São Clemente em Botafogo, vinham do Rio de Janeiro inteiro. Campos, São Gonçalo, Niterói, toda a Baixada. Cada bairro um ônibus, obreiros segurando placas do começo ao fim, para mostrar onde o grupo se encontraria, depois. Toda o Aterro foi tomado. Enfim, a periferia invadiu a cidade. Enfim, o povo tomou a rua.

Teria sido lindo, se não fosse uma orquestra tão desafinada com o que o próprio povo quer. Amanhã será dia de trabalho para grande parte dos que estavam ali. Vão continuar servindo de latas de sardinha em ônibus e trens, vão continuar não reclamando do salário, vão continuar se enganando que o mundo é naturalmente injusto e culpar o diabo nos cultos noturnos. 

Ficou mais do que provado que o povo consegue se mobilizar, sim. Pastorzinhos, em grande parte, não são os fdp como o seu Macedo. Os 100 mil ou mais que estavam ali são povo, e povo organizado para parar a cidade. Quando é que eles vão aprender a parar a rua e fazer a revolução?

Um comentário:

Diego Novaes disse...

Nunca. A igreja evangélica (refiro-me á Universal mesmo) prega o total conformismo com a sua condição, MC.

Deus, deu, Deus toma, Deus é bom, e ponto final. Não conseguem e não podem enxergar além disso. Revolução é pros fortes, e esse povo é fraco de mente, não por culpa deles, mas de seus pastorecos.

A lavagem cerebral corre solta. Eles acham que parando a cidade estão dando testemunho da força e do poder de Deus. Mal imaginam a antipatia que conseguem angariar, e pior, na conta do Divino, coitado.

Quando se tenta compreender a relação dessaspessoas com Deus, ou aceitar algo que eles possam produzir, eles mesmos implodem tudo.

Mas, praque se importar? Afinal, Jesus vai voltar de levá-los pro Céu no tal Arreebatamento, e o mundo aqui vai estar imerso no caos do fim dos tempos!