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sexta-feira, 25 de junho de 2010

epistolaridades

Dia desses li que a Casa de Rui Barbosa vai expor cartas recebidas por Carlos Drummond de Andrade. Trata-se de seu arquivo pessoal, contendo cartas enviadas por poetas, amigos e anônimos admiradores (anônimos para nós, talvez já não fossem anônimos para Drummond).

Apesar de ter um apego pela letra manuscrita, não vou aqui me lamentar o quase desaparecimento do suporte de papel em benefício das cartas e cartões virtuais. Troco cartas longas e bilhetinhos todos os dias com amigos e pessoas que admiro (admirando também meus amigos), sem cerimônias além da cerimônia da escrita, deixando de lado os rituais numismático e de postagem. Minto, às vezes lamento a falta de rituais... Mas a rapidez da internet fez da carta esse objeto raro, por isso caro a quem a recebe.

(Guardo em caixinhas os postais de amigos, e algumas poucas cartas recebidas ao longo de mi vida; como aquela declaração feita à mão, malgrado a correspondência diária que se fazia onlaine. A carta manuscrita manda com ela as marcas da agitação, impressos na letra, na escolha do papel e tinta, nas manchas de suor. Aliás, essa declaração veio em carta dupla, a segunda ainda mais angustiada pois a primeira carta demorou-se mais de um mês a chegar)

Perdemos também nosso endereço. Pouco importa onde estamos e estaremos, não há selo que o comprove. Perdemo-nos no tempo, sem precisar escrever datas: a marca automática de dia e hora é aliás nosso único recibo de envio, isso se você guarda o que você manda.

Não lamento mesmo a pouca troca em papel: epistoleira que sou, devo muito a imeios, emeesseenes, orkut (não é palavra estrangeira) e feicebuque por tudo o que me facilitaram no meu amor à correspondência. Fico apenas pensando em como fuçaremos, no futuro, os arquivos de escritores, essas trocas de cartas, para onde irão? Ficarão restritas ao imenso cemitério da rede ou desaparecerão pelas lixeiras de emails. Foi-se embora a curiosidade pela revelação póstuma escondida nas cartas, teria morrido por completo as obras de correspondências entre autores, o romance epistolar (pelo menos esses ainda são escritos, me diz a uiquipédia em inglês)?


Ligeiro suspiro e um minuto de silêncio pelo desaparecimento do arquivo a ser descoberto. Nunca mais, cartas de Drummond no museu, nunca mais gavetas e caixinhas a serem abertas. 




(um viva pela existência persistente das cartas dos leitores, da carta aberta e também da correspondência desviada, perdida em meio ao lixo cibernético; um viva aos erros de servidor e de digitação; mais um viva: ainda podemos receber cartas por engano)


***


Sim, confesso, essa incorrigível romântica sofre de um agudo mal de arquivo:  I'm currently using 5604 MB (75%) of my 7469 MB of my Gmail account. Sem contar a caixa do hotmail, que ainda folheio, às vezes...











5 comentários:

Adilson Jardim disse...

Legal, Indecidindo, também guardo as minhas dos amigos, com quem troquei missivas durante algum tempo. claro que, hoje em dia, o email é bem mais rápido, mas já ouviu falar em Mail-Art, Arte-Correo ou Arte-Postal? Isso pode ser bem "potencial". Vamos?

Anônimo disse...

Davide Crippa curtiu isto (pollice recto)

MC disse...

Vamos!

Te mando por email!

oócio (Adilson) disse...

Por e-mail? Estaríamos inaugurando a "Arte-Postal Eletrônica".

MC disse...

Tenho que te mandar meu endereço por alguma via, não?

Hehehehe