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quinta-feira, 15 de julho de 2010

olhares sobre a fotografia: o olho do crítico

“na palavra, morre o que dá vida a palavra:
a palavra é a vida dessa morte; é a vida que carrega a morte e se mantém nela” 
(Blanchot)

Em sua Câmara clara, Barthes ensaiou sobre a Fotografia como pretexto (Freud entende disso muito bem) para falar de sua mãe. Assim, dizia ele, que o olhar sobre a foto não seria o mesmo que pousamos sobre a História (“Paradoxo: o mesmo século inventou a História e a Fotografia”), essa "histérica: ela só  se constitui se a gente a olha – e para olhá-la, é preciso estar excluído dela". A História é para o sujeito “simplesmente o tempo em que não havíamos nascido”, enquanto a Fotografia é ambígua, ela diz que aquele momento existiu e já desapareceu.


O que nos encantaria, nos fascinaria na Imagem, não seria portanto o “belo”, mas a mesma fascinação que nos atrai no cadáver: uma inquietude, pois vendo o corpo do outro transformado em objeto posso lembrar-me de minha própria finitude – vejo o cadáver de um Outro, que é morto; o Outro é o Terror, o Desconhecido, que pode dar-me a Morte. 


A arte seria igualmente um desperdício, uma perda, “vizinha do sacrifício”, que nos inquieta da mesma maneira nos apontando para um Outro que olho querendo ser olhado. A literatura, essa estranha inutilidade, é um elemento análogo a um cadáver. O critico, nesse sentido, poderia ser visto como uma espécie de necropsista, vendo no aspecto do texto o que ele nos diz de nossa própria finitude. Afinal, seu uso e suas finalidades iniciais não determinam sua sobrevivência, mas sim a leitura que faremos da Obra e a leitura que faremos, da mesma forma que o único assunto de um poeta não passa dele mesmo, é uma leitura de nosso tempo, “anacrônica” em relação ao tempo em que foi criada.


(trechinhos da dissertação, mãe-irmã desse blog)

Um comentário:

Rogério disse...

Não é o mesmo que dizem sobre as partículas quânticas, que elas mudam quando são observadas? Ou seria para serem observadas?
Vai entender.
Bj.