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quarta-feira, 28 de março de 2012

isotopias

Repórter entrevista o "pizzaiolo", que explica a importância de deixar a borda da pizza mais elevada: "Senão queima e vai ter que fazer outra pro cliente".

Por essa mínima palavra, abre-se todo um novo entendimento das relações de trabalho ali na cozinha da pizzaria. O pizzaiolo, ali, não é mais o cozinheiro que fazia de sua atividade uma verdadeira profissão, ofício que dá significância a um modo de vida, incluindo aí muito além do modo de preparação, mas o saber e o discurso do profissional.

O discurso advém do saber, que é adquirido ao longo do aprendizado da profissão. Há, portanto, profissões e ocupações. Com a fragmentação das relações de aprendizagem e de trabalho, há essa iminência do sujeito que trabalha sem, realmente, ter uma relação afetiva com sua ocupação. E aí se misturam todas as questões de fragilidade nas relações de trabalho, a necessidade de operadores de determinadas funções que precisam agir com rapidez para atender a novas demandas de mercado, patati, patatá.

No caso, o pizzaiolo foi treinado para as funções de pizzaiolo, mas ele ali não tem a autonomia daquele que sabe, cujo cuidado vai além das preocupações com o formato da borda e a temperatura do forno e uma entrega rápida ao cliente = um indivíduo cujas necessidades precisam ser atendidas com o temor constante do gerente/patrão questionar a sua habilidade para essa ocupação; e aí o prestador de serviço poderá sofrer sanções e, quem sabe, não tentar mudar de ocupação?

A preocupação do profissional é, antes de tudo, com seu ofício, não apenas com o consumidor de seu produto. Esse deslocamento de objetos de inquietude conotarão o desprazer com o trabalho. Afinal, são novas metas a serem cumpridas. No caso do pizzaiolo, sua meta não é apenas a massa e o recheio bem cuidados da pizza, mas atender a um número máximo de clientes com o mínimo possível. No ensino privado, o professor torna-se responsável, também, pelo aumento e a estabilidade do número de alunos, pelo sucesso deles no vestibular.

Sempre estranho quando, em meu trabalho, tratamos alunos como clientes. E estremeci ao ouvir o mesmo vocábulo expresso por alguém que deveria tratar a quem ele serve como freguês. Que, para o bom profissional, nem sempre tem razão.

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