segunda-feira, 16 de julho de 2007
Clarissa
Clarissa, mais uma vez, se concentra no livro, rabiscando abstrações, pretensamente preciosas, ordenadas no seu bloco de papel.
Um perfume antigo vêm das estantes, da simetria mórbida das estantes. Clarissa talvez também sinta, mas trabalha.
Fantasias e sonhos enfileirados, fuzilados por traças e fungos. A voz de um esquecido poeta fantasma declama sombras num canto da biblioteca. Clarissa talvez queira seguí-lo, mas abaixa os olhos para prendê-los às folhas empoeiradas da velha gramática.
O teto tem lâmpadas que se revezam acesas e essa meia-luz me agrada. Menos à minha visão, que teima em nublar. Há sinfonia de sapatos tocando o azulejo, folhear de livros e sibilar de sussurros. Poderíamos dançar livres e invisíveis, mas Clarissa trabalha.
As carrascas horas nos arrastam, perversas. Mesmo assim, Clarissa leva tudo a sério e, denotativa, desdenha das minhas metáforas. Lá fora, algo nos escapa.
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2 comentários:
Os rasbiscos são os melhores. Até pude imaginar Clarissa...
Estou muito emocionada para rabiscar abstrações pretensamente preciosas, adoro o teu estilo, e a tua sensibilidade e, quando crescer, talvez em outra vida, quer ser que nem vc.
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