O trilho corta a cidade
Segue-o o raro verde
Fragmentos de infâncias
E da gente de olhos de grafite
E de barro.
Há luz apenas onde há pão
ou cachaça
De resto, luzamarela do alto
Ruídos de sonhos e de voltas
E o nunca-dormir de farmácias e bancos.
Dez horas
e os garotos que ainda olham
As meninas que esperam
Dez horas e corto a cidade
Sem vontade
Dez horas e o azul-néon do morro
Emoldura o céu e o sino e o azulejo
Velai por nós, São Gonçalo.
Tu, que não sois santo
Santificai nosso abandono
Olhai por nós,
Nessa rua-de-passagem
Nessa terra-estrangeira
Um comentário:
Poesias lindas, embora more longe está perto - relação cidade- mãe/cidade-filha. E como São Gonçalo marca!.. de passagem só os passageiros que por nós trafegam.
Ivan Lins disse que aqui é celeiro de músicos; O IRA disse que aqui começou o Hi-Fi; alguém disse que aqui é o berço do underground brasileiro. Seu Jorge acha longe pra namorar.
São Gonçalo sempre fica. Incomoda e impregna.
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