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segunda-feira, 16 de julho de 2007

Notas sobre uma nota sobre a Fotografia. (das sobras, n. 1)

1. O álbum de figurinhas

Olhávamos as fotos da viagem. Toda foto diz drink me, eat me, love my umbrella, ame essa camisa suja, mas nada me atingia. Me incomodaram as veias saltando das pernas daquela senhora. Ele se irritou com a má qualidade da câmera, e eu tentando explicar que o que mais gostei daquela outra foto era justamente o embaçado, isso, sim, me pungia. E as luzes acesas das janelas, mesmo ainda dia. Não adianta explicar. Como dizer que a foto do poeta me roubou a ficção que tinha dele? O que sei é que fotos são tão anacrônicas quanto a poesia. Amá-las é enxergá-las quando fechamos os olhos.



A foto que me mandaram dela, por exemplo. Achava que a veria, mas meus olhos correram logo para outra que estava ao lado e que também não posso mais encontrar, eu mesma, aos 16, e finalmente me achei bonita. Da amiga perdida, ainda ouço a risada, vejo os olhos bem pretos, e nenhuma foto me trouxe isso.



Falava com um desses em quem minha alma se cola em espelho. Concluímos que a gente é patchwork e isso faz bem. Ctrl+C e Ctrl+V de outros e das memórias dos outros. Na linha em que dobro a mão, guardo a foto do rosto do menino que seria o mesmo do filho que teríamos. De outro, deixo aquela dos cachos. Do último, só a do lençol, que não conheci, em primeiro plano, no quarto em desalinho.



Folheio meu álbum antes de dormir. Cada dia um fantasma me vem e me embala.

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