"Estou apaixonado? Sim, pois espero" (RB).
a minha figura favorita dos fragmentos de um discurso amoroso do roland barthes é justamente a da espera. a relação amorosa, resume ele, pode ser vista pela antinomia do que espera e do que é esperado. ele não quer dizer, com isso, que essas posições sejam fixas.
troca-se sempre de posições. como o mandarim, que se cansou de esperar. um dia cansa... quem nunca morreu de amor que não sabe o que está perdendo. e quem já foi amado também não.
e, historicamente, lembra ele, o papel daquele que espera coube sempre a mulher.
assim, em uma das frases mais belas que já li, ele afirma que o homem apaixonado "feminino se declara". não quer dizer, com isso, que ele se torna homossexual. mas que ele assume um papel para o qual a sociedade não o prepara. apaixonado, aqui, é aquele que se submete, que se arrisca, que se irrita e quase morre esperando.
veja só como o homem apaixonado é taxado de "sensível"... há dificuldade em assumir que se despeja pelos pés do ser amado.
não quer dizer que ele tenha se tornado feminino ou mudado de sexo. essas posições não são inatas. é apenas uma questão cultural. e podemos observar isso na maneira como nós mesmos lidamos com o amor. homem ou mulher.
e, claro, toda vez que há uma espera, tranfirimos nossas mesmas angústias para nosso objeto de desejo do momento...
mesmo mostrando como o amante sofre, barthes afirma que o futuro será daqueles que não têm medo de serem femininos.
de la tendresse, avant toute chose !
déclencheur
3 comentários:
hoje em dia sabemos consumir mais do que sabemos sentir. as pessoas se apaixonam por quem mal conhecem e se declaram por orkut, por msn, por email, protegidos pela tela.
não só os homens não sabem o que fazer do papel de apaixonado, mas muitas mulheres também. você já leu o blog consultorio poetico, do fabrício carpinejar? dá uma olhada e sente o drama.
ah, gostei da tirinha do andré dahmer. eu adoro a série "ulisses versus ulisses" dele. o ulisses representa o homem que quando se apaixona fica obcecado pela mulher a ponto de não perceber que sofre por uma relação que não existe e por uma mulher que ele idealizou. é engraçado acompanhar o quanto ele sofre de paixão pela rebecca. aiai. a dor de corno é uma realidade.
Vc já me falou sobre isso, sobre Barthes e a espera
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