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sábado, 6 de dezembro de 2008

Desensinos

O governo do Estado de São Paulo, para aumentar o número de aulas de filosofia, sociologia e português, diminui as de história, geografia e educação física

Uma fábula. 

Era uma vez a comunhão dos conhecimentos. Então, veio algum deus do ensino e a idéia de heróis, cada um com um superpoder. Quando nasceu o conceito de rentabilidade, os conhecimentos partiram pelo mundo buscando seus próprios caminhos, defendendo causas próprias. E o homem, que é formado de razão, corpo e psique[1], se viu dividido em ciências exatas versus humanas, e cada uma com suas disciplinas que se tocam, mas fingem não se ver.

 

Os superpoderes - ou domínios do conhecimento - não nasceram estanques. Mas a idéia de transversalidade, ou a re-conjunção dos campos de conhecimento na educação (e nas pesquisas, em geral), tem cheiro de anarquia quando abordados nos congressos. Ou devaneio de humanistas. E não é. Os homens que cuidam das horas discutem como distribuí-las entre as disciplinas como se distribui pão. E a gente não quer só comida, todos sabem. O que deveria estar na pauta é por que disciplinas tão comuns entre si, como a história e a sociologia, não podem trabalhar juntas. Nunca ouvi falar em projetos de capacitação de coordenadores de ensino (em geral são professores sem formação específica de pedagogia), que visem uma criação de projetos pedagógicos realmente integrados entre todas as matérias. Isso é visto em algumas raras e caras escolas particulares.

Algum jornal carioca anunciou essa semana prêmio de oito mil reais para escolas com professores premiados pelo concurso « Professor Nota 10 ». Onde estão os prêmios de incentivo para as equipes pedagógicas? Não basta premiar professores: é a medalha de honra para pistoleiros solitários. Aliás, oito mil reais é muito pouco... Oito mil reais deveria ser o salário mínimo de quatro professores do ensino fundamental. Não paga uma biblioteca nova e nem garante um bom uso dos possíveis aparatos tecnológicos que venham a ser adquiridos. Não adianta dar um computador a professores sem uma formação que ajude a usar todos os aparatos que essa ferramenta pode oferecer.

Pensar projetos pedagógicos coerentes com a realidade das comunidades e em que haja um diálogo e não brigas pelos feudos das disciplinas seria a coisa mais inteligente que as secretarias de ensino deveriam fazer. Não apenas publicando editais, mas sim criando capacitações e dando incentivos para as direções das escolas. Mas será que agora sou eu quem está devaneando?


UPDATE: Pelo menos, um discurso muito bonito do Juca Ferreira na Folha de hoje, sobre o PNC: http://www.cultura.gov.br/pnc

 



[1] Grosso modo, entendo aqui a razão como o domínio da lógica, a psique o imaterial da mente humana, e o corpo o que é observável e palpável. E o corpo não pode ser esquecido pelo ensino... as educações física, artística e musical (todos trabalham com as linguagens dos sentidos, do corpo) devem perpassar todo o ensino, não por mero capricho humanista, mas porque esses conhecimentos são os que vão colaborar na formação da estrutura do corpo, da sensibilidade e no respeito às culturas. Idéia para muitas outras discussões...


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