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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

a cor e a ideologia




Qualquer língua pode ser entendida como um sistema fascista, pelo sistema de imposições a que submete seus falantes. A língua do outro é, portanto, duplamente violenta, ainda mais quando imposta por mercados de trabalho...
Uma vez um professor meu comentou que um grande sintoma da queda de um império é quando a língua desse passa a ser dissolvida pelas culturas submissas, que a reconstróem como querem.
Assim como o império romano ruiu - ao mesmo tempo em que se consolidavam português, francês, dalmáta -, a língua americana - não direi inglesa, pois falo aqui de todo o código cultural que acompanha essa fala - já é há algum tempo digerida em todo mundo, que a cospe em qualquer outra coisa que não seja o Inglês.

Ontem, em um debate na ENS com pesquisadores importantes do mundo acadêmico francês, discutia-se o presente e o futuro american way of beeing.

Com Antoine COMPAGNON (Collège de France) e Donald MORRISON (Time Magazine) - vale a pena checar o debate que o segundo levantou e o primeiro rebate sobre a cultura francesa e a necessidade dela de aproveitar o melting pot que se instaura para recriar-se -, Eric FASSIN (École Normale Supérieure), Kate FLEMING (New York University, Institut Remarque), Pap NDIAYE (EHESS) e Philippe ROGER (EHESS, Critique), o debate foi muito interessante, sobretudo do ponto de vista antropológico.

Pap Ndiaye, historiador, era o único negro de toda a sala, de público composto essencialmente de normaliens, os alunos dessa escola, a grande elite intelectual francesa. Os dois americanos da sala subiam o tom da voz quando enunciavam alguma questão ou frase enfática, enquanto os franceses mantinham o tom sério, mesmo quando no fim já estavam bem animados com a evolução do assunto.

A cor do presidente, lembraram todos, é fato importante, antes de tudo. Kate Fleming reforçou que a grande maioria que votou nele votou malgré tout. A cor, nessa eleição, mesmo ante a inexistência de uma bipolaridade real de ideologias direita X esquerda, tinha um ar de esquerda.
Don Morrisson, que havia iniciado seu discurso enfatizando que Barack vai decepcionar tanto os seus inimigos de direita quanto os seus partidários de esquerda, concluiu afirmando que seu presidente vai adotar uma política para assustar sua população para forçá-la a colaborar com os esforços necessários por uma melhoria econômica.

Enfim, como destacaram, essa eleição foi importante para reanimar minorias até na França, que até então não achavam que a política falava deles (isso é bem visível no quartier em que me encontro, onde negros e asiáticos predominam, com tantas lojas vendendo t-shirts dObama). Sobretudo, acredito, o americanismo copiado aqui e ali, somado a essa crise que desmascara a falência desse império, são mais alguns dos sintomas da urgência de se considerar a importância do estrangeiro nessa nova ordem.

A potência americana pode ser medida pela sua aceitação ou rejeição no mercado internacional de cultura, e a morte da cultura francesa é denotada por sua ausência nesse mesmo mercado. Esses dois grandes pólos de cultura - de massa X erudita, como eles sempre se impuseram -, tentam sobreviver, justamente, fazendo uso dos estrangeiros que os alimentam.
A cultura americana já se dobrou à nova língua do negro americano. A francesa depende, hoje, da Francofonia, uma nova maneira de impôr o francês, sob a aparente aceitação do outro...


Como em Germinal, imagino que essas línguas são roídas nas profundezas dos subempregos, e não está longe o dia em que os países emergentes mostrarão a sua força...


Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa
Émile Zola

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