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sábado, 26 de dezembro de 2009

Borrasca!


Aquela história: nada impede o progresso. O engenheiro chega na cidade e prova sua esperteza, negociando malandramente com os pescadores.

O homem do petróleo paga a bebida no bar, celebra as moças, aluga o barco e o pescador e explode o fundo do mar. Os pescadores de camarão da Louisiana se apavoram: acabarão com o pouco do que eles ainda conseguem tirar do mar.

Em vão chamam a lei: "o petróleo também é um recurso natural", retruca o homem do petróleo. Nada impede Steve Martin, o personagem de James Stewart em Borrasca! (Thunder bay, 1953), de perfurar o mar, alcançando o sonho de 2500 m (tecnologia realmente impressionante numa época em que 100 m era o limite, a Petrobras bateu o recorde de 174 m em 1974, sendo o recorde atual de 2777 m em 2007).

Com muita teimosia, ele consegue o petróleo, a amizade dos pescadores, a mocinha, os camarões. Porque, afinal, o petróleo só trouxe riqueza para todos.

***

Final de 2009, em Arraial do Cabo: um verdadeiro engarrafamento de bicicletas, na porta da escola municipal, onde a cidade se reuniu durante dois dias. Pescadores lá, perdendo peixes, formaram dezoito grupos de discussões, debatendo suas riquezas. Numa região cobiçada pelo petróleo e rica na pesca, a Petrobras financia o projeto Arraial Sustentável, mas quem debate e levanta as ideias são os pescadores. Dos dezoito, nasceu um décimo nono grupo, que redigiu um ofício pedindo a volta da indenização paga ao pescador durante os períodos de pesca proibida. O sistema foi interrompido há dois anos em Arraial, devido a esquemas de corrupção que desviavam a verba. O próprio representante do Ministério da Pesca, presente no local, encarregou-se de entregar o ofício.

Eles estavam ali protegendo seu trabalho, ameaçado pela pesca industrial, pela poluição, pelo turismo, pela extração de petróleo.

Aqui, o coletivo é quem vem negociar. E esperamos que se consiga, em breve e de fato, construir a sustentabilidade esperada. Cooperação, co-gerenciamento, trabalho horizontal, deixam aos poucoss de ser utopia naquelas paragens.

Foto: Pescadores, pesquisadores (estudantes de pós-graduação e coordenadores do projeto Arraial Sustentável) navegam por Arraial, na elaboração do mapa da costa. O resultado foi a construção de uma maquete interativa sobre a geografia e economia local, utilizada pelas escolas e para pesquisas.

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Já escreveram por aí, claro, que Lula, o filho do Brasil é mais um filme no estilo Dois filhos de Francisco, o selfmade cabra. Nem preciso comentar o senso comum que ainda confunde clichê com sabedoria popular, materializada na mãe do filho do país.

Mas o que mais me enerva é a desmoralização do discurso político. Todo "grande herói" vira um pateta apaixonado. Não aguentei ver Olga até o final com o Prestes com cara de babaca. E o Lula não fica atrás, é só um cara legal que faz as coisas com teimosia, sem entender muito bem as coisas?

Novelas só banalizam a luta.

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