Depois que terminei meu curso de inglês, engatei no francês. Anos mais tarde, quando me chamaram de supetão pra fazer uma tradução consecutiva do francês pro inglês numa pequena conferência do FSM (2005), bloqueei, travei, na frente de umas trinta pessoas. Desde então, qualquer encontro com um americano era na base dos sorrisos. Quando tentava, me envergonhava, não saía mais nada.
Rachel Dana me ajudou muito nisso. Na hora e meia de aulas, que eu sempre extrapolava, ela me deixava falar. Minha analista. Depois de uma nota ruim, ela me disse: "Bem feito, Maria Clara, você tem que aprender que você não é perfeita".
E ainda me contava suas histórias. Ensinou-me sobre sinagogas e Hanukkah, sobre sua família e seu sobrenome inglês, que chegou vindo das arábias, pelo pai de seu marido.
A cup of coffee? Two spoons? E ela até comprou uma garrafinha térmica de água: tenho o hábito de beber sempre e muito enquanto falo e ficava sem graça de pedir mais água todo o tempo. Why you didn't ask?
Minha nota no TOEFL foi de 89, após dez anos de inglês enferrujado. Doris, sua filha, também professora de inglês, me ajudou a treinar pra prova, mas disse que eu já estava preparada na única aula que tivemos.
Eu deveria ter voltado a estudar no final de janeiro, mas precisava me organizar, e acabei não ligando de volta para confirmar. Escrevi para ela ontem, começava assim:
Rachel, desculpe ter desaparecido.
e terminava:
tenho muitas saudades das aulas e de você. How are you?
Best wishes
Só que eu não sabia: ela se fora na semana passada. Dessas coisas, fatalidades. E aí, aquela coisa, agora só me vêm lágrimas e aquela frase, de outro judeu, na cabeça: O mundo se foi, é preciso que eu te leve.
Tome esse texto como pedrinhas aguardando teu retorno. A vida perdeu uma qualidade.
Um comentário:
f**k =/
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