Um ovo flutuava no rio Uspanapa.
Caridad mexia a água, querendo apanhá-lo; e tanto se agachou que acabou caindo de cabeça no fundo lodoso.
Depois de muito se agitar, emergiu ensopada e sem o ovo, botando água e raiva pelos sete buracos da cabeça. Quando se ergueu na margem, bateu sem querer na ramagem; e o ovo, que aparecia no rio mas estava entre os galhos, caiu aos seus pés.
Caridad sentou-se.
Ao calor de seu corpo, o ovo se quebrou e Andâncio nasceu e chorou.
Serpenteava a língua. Caridad lambia os beiços contemplando o menino que crescia:
– É meu, é meu - dizia.
Andâncio sentia gratidão, porque afinal ela o havia nascido; mas assim que Caridad saía de casa, o menino confiava suas preocupações ao camundongo:
- Minha mãe quer me comer.
E o camundongo movia a cabeça:
- Todas as mães têm essa mania.
[...]
Eduardo Galeano, "História do menino que se salvou do amor de mãe e outros perigos" (As palavras andantes)
domingo, 12 de agosto de 2012
História do menino que se salvou do amor de mãe e outros perigos
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